Bullying por gostar de Kpop...quem nunca?
08:00
Tudo
começa quando dizemos as pessoas que gostamos de música coreana.
Olham para nós num misto de surpresa, confusão e repulsa. Segue-se uma série de perguntas e comentários que estamos mais do que habituados a ouvir.
Olham para nós num misto de surpresa, confusão e repulsa. Segue-se uma série de perguntas e comentários que estamos mais do que habituados a ouvir.
“Mas
tu não entendes nada do que eles dizem”
“Tens
fetiche por asiáticos?”
“Eles
a mim parecem-me todos iguais”
“Isso
é um gajo?”
“Tu
és mesmo estranha (o)”
Todos nós já ouvimos comentários do género pelo menos uma vez na vida, verdade?
Todos nós já ouvimos comentários do género pelo menos uma vez na vida, verdade?
Se
és fã de kpop e nunca ouviste as frases acima, das duas, uma: ou tens mantido
em segredo o teu amor pelo kpop ou…estás a mentir.
Não
me interpretem mal, a surpresa/curiosidade é bastante compreensível. É claro
que não deixa de ser invulgar gostar-se de uma cultura com a qual não lidamos tradicionalmente.
Até porque, pelo menos cá em Portugal, quando se ouve falar em Coreia, na maior
parte das vezes é no telejornal e sempre num qualquer segmento em que se
noticia mais um episódio das crónicas de Kim Jong Un e da Coreia do Norte.
O
incómodo começa quando as pessoas olham para nós como se tivéssemos acabado de
dizer que gostamos de comer esparguete com nutella.
Por
que é que gostar de algo invulgar dá o direito as pessoas de nos apelidarem de estranhos?
Em
primeiro lugar creio que podemos atribuir culpa em parte a ignorância e falta de exposição a
outras culturas. Quando eu uso a palavra ignorância não é com o intuito de ofender
ninguém, refiro-me a falta de conhecimento.
Nós
por cá, e apesar do passado de descobrimentos, não lidamos com culturas
orientais. E não, comer sushi, ir ao restaurante chinês ou a loja dos chineses
não conta.
Falo sim no sentido de interagir com as pessoas de outras culturas e fazer um esforço para aprender com elas. Partilhamos espaço mas a absorção de conhecimento é maioritariamente unilateral. Portanto é difícil entender ou respeitar o que se desconhece.
Falo sim no sentido de interagir com as pessoas de outras culturas e fazer um esforço para aprender com elas. Partilhamos espaço mas a absorção de conhecimento é maioritariamente unilateral. Portanto é difícil entender ou respeitar o que se desconhece.
Segundo,
à falta de informação muita das vezes junta-se informação errónea. Senão,
pensem na representação dos asiáticos nos media.
Seja
em filmes ou séries, eles são sempre retratados da mesma forma. Se nos focarmos
nos chineses, coreanos e japoneses, interpretam sempre o papel de nerds,
peritos em artes marciais ou fazem parte da mafia. Dando sempre ênfase ao facto
de eles serem como máquinas, que vivem para o trabalho, incapazes de expressão
artística ou de saberem aproveitar a vida e divertir-se como o resto dos
mortais.
Daí
também podemos tirar a relação com a pergunta frequente “tens fetiche por
asiáticos?”. É sabido que partes diferentes do globo regem-se por conceitos de
beleza diferentes. E todos os estereótipos que recaem sobre este grupo em particular
quase que os torna seres assexuados, mas que me lembre ainda fazem parte da espécie
humana. Por que é que a capacidade de encontrar beleza noutro ser-humano é
considerada fetiche?
“Mas
tu não entendes nada do que eles dizem”. Verdade. Grande parte dos fãs internacionais de kpop
não entende as letras das músicas. Graças a Deus pela internet que nos permite
descobrir o que o nosso bias está a cantar. Mas ao contrário de nós, a geração
anterior não era propriamente fluente em inglês. Isso nunca os impediu de serem
fãs de grandes nomes como Michael Jackson, Bruce Springsteen, Bon Jovi.
O
que é mais triste – e surpreendente - é que por vezes as maiores demonstrações
de intolerância partem de quem partilha a mesma faixa etária que nós. Pessoas
de uma geração da qual se espera uma mentalidade mais aberta e maior aceitação
da diversidade.
Ma
não deixa de ser intrigante: por que é que é tão importante para as pessoas entender
porque gostamos de kpop?
Os
seres humanos têm a necessidade de compartimentar as coisas e colocar rótulos nas
pessoas e situações, de forma a conseguirem organizar-se. Mas entender o que
nos atrai no kpop, muda alguma coisa na vida delas? Não, não muda. Quanto muito
mata a curiosidade.
O
que nos leva a seguinte conclusão:
Nunca
sintam a necessidade de explicar que o vosso gosto musical é um bocado “diferente”.
Aliás, não lhe chamem diferente. Música é música. É suposto ser uma linguagem
universal.
Kpop
é muito mais do que música,é uma sub cultura da
cultura coreana.
É
música, dança, fandoms, aegyo, variety shows, líderes e maknaes, ships, fan
wars e acima de tudo é algo que nos faz feliz enquanto fãs.
Não
nos devemos desculpar pelo que nos faz feliz, muito menos explicar. As pessoas
não precisam entender, só respeitar.
Congratulem-se
por serem capazes de ver para além dos estereótipos e abraçar a diversidade. O
que seria do mundo se dançássemos todos a mesma música?
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